O avanço da conectividade no Brasil está diretamente ligado à disponibilidade de espectro de qualidade. Nos últimos anos, a faixa de 6GHz emergiu como uma das principais aliadas para impulsionar redes Wi-Fi mais rápidas e estáveis, essenciais para suportar a crescente demanda por Internet das Coisas (IoT), streaming em alta definição e aplicações empresariais. No entanto, uma recente decisão da Anatel pode alterar esse cenário, gerando preocupações sobre o futuro da conectividade sem fio no país.
A Importância do Wi-Fi para os Brasileiros
O Wi-Fi é a principal forma de acesso à internet no Brasil:
- 88% da população (164,5 milhões de pessoas) utiliza a rede, sendo que a maioria depende do Wi-Fi em residências, empresas e espaços públicos.
- Em classes de maior renda, 95% dos usuários combinam redes móveis e Wi-Fi, enquanto em classes menos favorecidas, 37% ainda dependem exclusivamente do Wi-Fi para se conectar.
- 80% do tráfego de dados no país é escoado por redes Wi-Fi, incluindo o offload (alívio) das redes móveis.
Diante disso, a expansão do espectro disponível é crucial para garantir qualidade e inclusão digital.
A Faixa de 6GHz e Seu Potencial para o Wi-Fi
Originalmente, a faixa de 6GHz (5.925–7.125 MHz) foi destinada integralmente para uso não licenciado (Wi-Fi 6E e Wi-Fi 7) em 2021, seguindo modelos internacionais como o da FCC (EUA). Essa decisão trouxe benefícios como:
✔ Maior velocidade e capacidade para redes domésticas e empresariais.
✔ Menor congestionamento em ambientes com muitos dispositivos conectados.
✔ Suporte a tecnologias emergentes, como realidade virtual e automação industrial.
A Polêmica Decisão da Anatel e Seus Riscos
Em 31 de dezembro de 2024, a Anatel revisou o Plano de Distribuição de Frequências (PDFF) e realocou parte da faixa de 6GHz para sistemas IMT (redes móveis 5G/6G), a ser leiloada para operadoras. Essa mudança foi aprovada via Circuito Deliberativo, sem:
🔴 Análise de Impacto Regulatório (AIR) – Não houve estudo técnico sobre os efeitos econômicos e sociais.
🔴 Transparência e consulta pública – Setores afetados, como provedores regionais e usuários, não foram ouvidos.
Possíveis Consequências
- Redução da eficiência do Wi-Fi 6E/7 – A limitação do espectro inviabiliza a plena utilização dessas tecnologias.
- Prejuízo a pequenos provedores – ISPs regionais dependem do Wi-Fi para oferecer internet acessível, especialmente em áreas sem cobertura móvel robusta.
- Atraso na inclusão digital – O Wi-Fi é vital para conectar populações de baixa renda, e a restrição pode ampliar a exclusão.
- Desalinhamento com padrões globais – Países como EUA, Reino Unido e Coreia do Sul já adotaram a faixa de 6GHz integral para Wi-Fi.
Mobilização do Setor e Pedido de Revisão
A ABRINT (Associação Brasileira de Provedores) protocolou um pedido de anulação da decisão, argumentando que:
- 53% da conectividade brasileira é fornecida por pequenos ISPs, que seriam os mais impactados.
- A medida beneficia grandes operadoras em detrimento da concorrência e inovação.
- O Wi-Fi 7, que promete velocidades de até 40 Gbps, ficará limitado sem espectro suficiente.
O Caminho a Seguir: Transparência e Equilíbrio
Para evitar retrocessos, é essencial que a Anatel:
✅ Realize uma AIR (Análise de Impacto Regulatório) – Avaliando os efeitos econômicos e técnicos da mudança.
✅ Promova consultas públicas – Garantindo participação de todos os stakeholders, incluindo usuários e provedores.
✅ Mantenha a faixa de 6GHz para Wi-Fi – Alinhando-se às melhores práticas globais e preservando a competitividade.
Conclusão: Conectividade em Jogo
A faixa de 6GHz é um recurso estratégico para o futuro da internet no Brasil. Se mal gerida, sua fragmentação pode atrasar a inovação, aumentar desigualdades e onerar pequenos provedores. A sociedade civil, o setor acadêmico e as empresas de tecnologia devem se mobilizar para exigir transparência e decisões baseadas em evidências, assegurando que o Brasil não perca o trem da revolução digital.